Oscarito Awards: 1932-1933
A temporada 1932-1933 de elegibilidade dos filmes para os Academy Awards, estendendo-se por um ano e meio, de agosto de 1932 a dezembro de 1933, com o objetivo de começar um novo calendário de elegibilidade (janeiro a dezembro) que viria a ser estabelecido a partir de 1934. O vencedor na categoria de Melhor Filme foi Cavalgada (Cavalcade), prêmio que confirma desde cedo o apreço dos membros da Academia por filmes sobre vidas familiares afetadas por conflitos históricos. Não considero Cavalgada um dos piores vencedores do prêmio principal, mas certamente ele não está entre os dez indicados a melhor filme no Oscarito Awards relativo a 1932-1933.
A seguir, minha lista de indicados ao Oscarito Awards segundo a temporada de filmes elegíveis de 1932-33, na qual se destaca um dos maiores filmes da história do cinema, o formidável retrato da semente do mal que germinava na Alemanha nazista e que aponta que "O Assassino Está Entre Nós" (título original do filme que foi censurado pelo governo alemão). Aliás, este filme mostra que, quando compactuamos com a maldade institucionalizada, "o assassino" somos nós.
Filme
1.
M - O Vampiro de Düsseldorf (M)
2.
O
Fugitivo (I am a Fugitive from a Chain Gang)
3.
Sócios
no Amor (Design for Living)
4.
King
Kong
5.
O
Homem Invisível (The Invisible Man)
6. Peregrinação (Pilgrimage)
7. O Último Chá do General Yen (The Bitter Tea of General Yen)
8. Diabo a Quatro (Duck Soup)
9. Jantar às Oito (Dinner at Eight)
10. Belezas em Revista (Footlight Parade)
* Apenas O Fugitivo, melhor filme do ano de 1932 segundo o National Board of Review, foi indicado ao Oscar nesta categoria.
Direção
1.
Fritz
Lang (M)
2.
Ernest
Schoedsack, Merian Cooper (King Kong)
3.
Ernst
Lubitsch (Sócios no Amor)
4.
James
Whale (O Homem Invisível)
5.
Mervin
LeRoy (O Fugitivo)
* O trabalho de direção de Lang em M é assombroso. Cooper & Schoedsack, e também Whale, têm o grande mérito de dar verossimilhança a dois dos personagens da ficção fantástica mais conhecidos da literatura e do cinema. O toque de Lubistch é conferir modernidade a personagens, diálogos e cenas que poderiam ser refilmadas hoje e ainda causar controvérsia. Se Leroy tem alguma fama de diretor de mão pesada, ela se dissipa nesse trabalho de grande precisão em O Fugitivo. Mas, quando revejo Peregrinação, sinto que John Ford deveria estar entre os cinco indicados nesta categoria no lugar de Leroy.
Ator
1.
Peter
Lorre
2.
Paul
Muni (
3.
Charles
Laughton (Os Amores de Henrique VIII)
4.
Claude
Rains (O Homem Invisível)
5.
Leslie
Howard (Romance Antigo)
* Exceto Leslie Howard, os demais atores têm papéis bastante desafiadores: um assassino de crianças, um prisioneiro em fuga, um monarca historicamente abusivo e um homem sem rosto. Todos apresentam atuações admiráveis.
Atriz
1. Miriam Hopkins (Sócios no Amor)
2.
Katherine
Hepburn (As Quatro Irmãs)
3.
Barbara Stanwick (Serpente de Luxo)
4. May Robson (Dama por um Dia)
5. Mae West (Santa Não Sou)
* Em 1933, Hopkins, Stanwick e West estrelaram filmes que acabaram sendo o gatilho para a criação de regras mais rígidas de censura que culminaram no Código Hays: Levada à Força (The Story of Temple Drake), uma adaptação da ousada obra Sanctuary, do escritor William Faulkner; Serpente de Luxo (Baby Face), em que Barbara demonstra toda sua versatilidade no papel de jovem explorada que passa à mulher vingativa; Santa não sou, com Mae West icônica e a todo vapor nas inferências sexuais. Não por coincidência, estes filmes foram banidos na época pela famosa Legião da Decência.
Em contraste, temos Hepburn como Jo March na primeira versão sonorizada do bem-comportado romance de Louisa May Alcott (Little Women, refilmado inúmeras vezes), e Robson quase santa e milagrosa no filme de Frank Capra, refilmado pelo próprio Capra décadas depois.
Ator Coadjuvante
1.
Raimu
(Marius)
2.
John
Barrymore (Jantar às Oito)
3.
Walter Connoly (O Último Chá do General Yen)
4.
Charles
Laughton (A Ilha das Almas Selvagens)
5.
Edward
Everett Horton (Sócios no Amor)
Atriz
Coadjuvante
1. Elsa Lanchester (Os Amores de Henrique VIII)
2.
Marie
Dressler (Jantar às Oito)
3.
Florence Eldridge (Levada à Força)
4.
Billie
Burke (Jantar às Oito)
5.
Glenda Farrell (O Fugitivo)
* Destaque para Lanchester como Ana de Cleves, uma das esposas de Henrique VIII (Lanchester viria a se casar com Charles Laughton posteriormente), e Dressler, impagável e sardônica, principalmente nos diálogos com Jean Harlow.
Roteiro Original
1.
M
2. O Diabo
a Quatro
3.
Os
Amores de Henrique VIII
4. King Kong
Roteiro Adaptado
1.
Sócios
no Amor
2. O Fugitivo
3. O Homem Invisível
4. O Último Chá do General Yen
5. As Quatro Irmãs
Filme Internacional
1.
Redenção (Libelei / Alemanha)
2.
Boudu Salvo das Águas (Boudu Sauvée des Eaux/França)
3.
Ganga Bruta (Brasil)
4.
A Canção de Lisboa (Portugal)
5. Minato no
nihonmusume (Japanese Girl at the Harbour/Japão)
* Meus cinco indicados são o melodrama lírico e classudo de Max Ophüls que resistiu bem ao tempo, a deliciosa comédia de Jean Renoir com seu irresistível Boudu, o filme de Humberto Mauro com sua ainda hoje espantosa cinematografia, a comédia portuguesa com o carismático humorista Vasco Santana, e o retrato da juventude japonesa de Hiroshi Shimizu.
1. King Kong - Max Steiner
2. O Homem Invisível - Heinz Roemhold
3.
Marius - Francis Gromon
4.
Os Amores de Henrique VIII - Kurt Schroeder
5.
Sangue de um Poeta - Georges Auric
* A música magnífica de Max Steiner para King Kong permanece como a pedra fundamental da trilha musical para cinema. Tudo já está aqui: leitmotif, desenvolvimento de temas, mickeymousing, orquestração épica e íntima.
Fotografia
1.
M
2. O Homem Invisível
3. King Kong
4.
Levada à Força
5. O Último Chá do General Yen
Desenho de Produção
1.
Belezas
em Revista
2.
Os
Amores de Henrique VIII
3.
M
4.
Romance
Antigo
5.
A Ilha das Almas Selvagens
Figurino
1.
Os
Amores de Henrique VIII
2.
Romance
Antigo
3.
Belezas em Revista
4. As Quatro Irmãs
5. O Último Chá do General Yen
Som
1. King Kong
2. O Homem Invisível
3.
Belezas
em Revista
4. O Fugitivo
5. O Último Chá do General Yen
Montagem
1.
M
2.
King
Kong
3. O Fugitivo
4. O Homem Invisível
5.
Sócios
no Amor
Efeitos Visuais
1. King Kong
2. O Homem Invisível
Maquiagem
1.
A Ilha das Almas Selvagens
2.
A Múmia
* O vencedor desta categoria é a primeira adaptação do cinema falado para o clássico de H. G. Wells, A Ilha do Dr. Moreau. Este filme foi censurado e banido em diversos países por mostrar cenas de vivissecção de animais, por sugerir evolução animal sob controle humano e, principalmente, por causa de uma fala do dr. Moreau (Charles Laughton) em que ele diz "você sabe o que significa se sentir como Deus?". H. G. Wells rejeitou a adaptação que, segundo ele, ressaltou elementos de terror em detrimento da discussão filosófica presente na obra original.
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